19 fevereiro 2013

Uma anotação serenamente política

Uma pequeníssima diminuição no 
défice das coisas que ainda não rebati


Carlos Brito no i, em entrevista feita por Nuno Ramos de Almeida (sublinhados meus) : «(...)Eu no XII congresso [1988] já tinha muitas reservas em relação a algumas destas questões. Fiquei muito insatisfeito porque considerava que era possível ter evitado a saída de muita gente. Repare que o Cunhal ainda faz um esforço para tentar manter essas pessoas no partido. É este o congresso que faz a renovação do programa do partido e que tem na comissão de redacção desse documento o Barros Moura e o Luís Sá, que ainda estava nessa altura dentro da linha oficial. Esse esforço é contrariado pela elaboração dos estatutos. É uma contradição grande, o programa é feito para a abertura, pela primeira vez deixa de se reclamar, por exemplo, a saída da CEE. Nessa altura assume-se a necessidade de lutar dentro das instituições europeias para contrariar os aspectos mais nocivos do processo de adesão....»; « (...)É preciso relembrar que o Novo Impulso que corporiza esta renovação é aprovado anos mais tarde pelo Comité Central.»

Sobre isto apenas três  notas propositadamente sintéticas:

A primeira é que, salvo nos desejos, sonhos ou ilegítimas apropriações de alguns, até à sua triste e chorada morte, não há nenhumas declarações ou atitudes do meu querido amigo e camarada  Luis Sá que permitam seja a quem for dizer que, em algum momento, ele podia ser qualificado como estando fora do que se chama «a linha oficial do partido». É aliás por causa destas e doutras do género que, em tempos idos, cheguei a sustentar que fazia falta uma «carta dos direitos dos mortos».

A segunda é para dizer se alguém escreve que foi com o Programa para uma Democracia Avançada no Limiar do Século XXI aprovado no XII Congresso do PCP que «pela primeira vez deixa de se reclamar, por exemplo, a saída da CEE» então está a declarar  que, antes dele, o PCP reclamava essa saída. Ora, a este respeito, depois de consumada a adesão de Portugal à CEE, eu não conheço qualquer declaração ou comunicado dotados da autoridade necessária para vincularem o PCP em que este tenha reclamado tal saída (de passagem, recorde-se que um ano e meio antes daquele Congresso já o PCP tinha três deputados no Parlamento Europeu).Se, apesar de mais novo, é a minha memória que está pior que a do autor da afirmação, então que venha a comprovação factual e indiscutível da tese.

A terceira diz respeito ao sempre tão deturpado «Novo Impulso» (documento de 1998 que está disponível aqui) e destina-se a lembrar aos sempre muito esquecidos que esse documento tinha um longo Cap. III  (onde se aborda a atitude face ao PS) que vale a pena revisitar e que, justa e rigorosamente, deve ser considerado o enquadramento e a orientação política global em que se inseriam as linhas de acção constantes na parte anterior do documento. Parece portanto que deve ter havido quem tenha aprovado e até exaltado  esse documento mas só por metade ou por dois terços. Por fim, é chegada a hora de referir que, sem prejuízo de contributos resultantes do debate colectivo, a verdade é que não foram os então dirigentes do PCP que mais tarde se reclamariam da qualidade de «renovadores» que escreveram o projecto desse documento.

2 comentários:

  1. As clarificações necessárias. Obrigada, camarada.

    Um beijo.

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  2. Como foi possível mudar-se assim por questões de menor valia quando tanto se sofreu...
    Encontrei Carlos Brito a passear em Belém e perguntei-lhe se se recordava de mim. Muito bem depois de lhe avivar a memória.
    Queria-lhe dizer mais coisas mas não fui capaz e a minha dúvida persiste, como foi possível ele ter deixado de ser meu camarada!
    JM

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