15 julho 2012

O «Público» e António Borges

Quatro páginas quatro !




É certo que o homem tem no forro dos casacos as etiquetas retroactivas do FMI e sobretudo da famosa e poderosa Goldman Sachs. Mas, de qualquer forma, não é primeiro-ministro, não é ministro, não é secretário de Estado, não é líder ou destacado dirigente partidário, não é deputado. Chama-se António Borges e, além de executivo da Jerónimo Martins, é apenas (?) consultor (?) do governo para as futuras privatizações.
Isto tudo não impediu o «Público» de, em dia do Senhor, nos impingir uma entrevista com o senhor ao longo de quatro páginas quatro !
Não vou perder tempo com o sentido geral da entrevista que fica dado pelo seu título «Os resultados vão começar a chegar mais cedo do que se esperava» [eu até acho que já chegaram há muito !] e pelo lead da entrevista onde se pode ler que «o consultor do governo para as privatizações, banca, revisão das PPP, diz que os problemas da poupança e do défice externo estão em vias de resolver-se. Só falta regressar ao crescimento». Ou seja, acrescento eu malevolamente, só falta essa coisinha de nada que só ela pode permitir diminuir o desemprego, criar riqueza, aumentar as receitas fiscais e pagar dívidas.
Por mim e por ora, basta-me sim registar que este grande craque da economia afirma nesta entrevista que «convém lembrar que, em Portugal, nos últimos anos, subiram-se  os ordenados da função pública muito mais do que no privado».
Acontece apenas que é do domínio público que, desde 2000, os trabalhadores da função pública têm vindo sucessivamente  a perder salário em termos reais, cabendo a António Borges demonstrar que idêntica ou superior perda se verificou no sector privado (e, mesmo em tal caso, reconhecer então que o verbo «subir» só entra na sua entrevista a despropósito).


(quadro amavelmente indicado por J. Eduardo Brissos)


Por fim, já que se fala de função pública,
um pouco de memória tirado de aqui


4 comentários:

  1. Não vai ser fácil a "António Borges demonstrar que idêntica ou superior perda se verificou no sector privado" porque o que aconteceu (mesmo ainda sem os cortes dos subsídios de 2012) foi o contrario, ver aqui:
    http://4.bp.blogspot.com/-NoZr-B9WN_Q/T_r-s61zV_I/AAAAAAAAAIM/U_Dykdd8PQ0/s1600/wages.png

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  2. Não admira nada aquilo qie eles dizem, pois são peritos em dizer e desdizer. Depende muito da condição em que se encontram. E a função pública foi, desde sempre, o melhor alvo de conversa.

    Um beijo.

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  3. Caro V.D.:é uma subida negativa!!!

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  4. Já sabemos por experiência que essa gente não tem qualquer problema em mentir. Para eles vale tudo e quando são apanhados continuam a afirmar-se de consciência tranquila.

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