14 fevereiro 2012

O incomparável Relvas e o Programa de Governo

A minha explicação para a
edição limitada em «couché semimate»


Eu sei que há centenas ou milhares de assuntos bem mais importantes em Portugal e no mundo mas, como sou miudinho e dado a pormenores, demorei-me hoje na notícia do Público intitulada «Programa do Governo editado em livro/Ministério de Miguel Relvas paga 120 euros por cada exemplar». A notícia explica depois que se trata da decisão do inigualável Relvas de mandar executar em tipografia cem-exemplares-cem do Programa do governo, só para distribuição aos seus membros, em papel couché semimate, com uma capa em tons de cinza-prata e uma ilustração em alto relevo.
Acontece que esta maldita mania de indagar mentalmente me levou a uma inocente pergunta: para quê isto ou tudo isto ?.
Na verdade, o Programa do Governo não só deve estar online numa data de sítios (portal do governo, Diário da Assembleia da República) como deve haver centenas de departamentos do Estado em condições de fazerem em A4, a cores ou a preto e a branco, a edição de 100 exemplares da «obra» pelo sistema de fotocópias ou offset.
Antes de encontrar uma explicação, ainda me ocorreu o pensamento de que esta gente tem uma política de classe, tem classe e serve interesses de classe mas não tem «classe» num certo  sentido popular da palavra. É que, se a tivesse, a edição seria numerada e autografada pelo primeiro-ministro.
Mas, passando à frente, tudo visto, só encontro duas explicações, sendo que a segunda é derivada da primeira.
A primeira é pois que, estando em vigor, suponho eu, a boa regra de as tipografias serem obrigadas a mandar 13 exemplares para a Biblioteca Nacional (que as reencaminha também para outras bibliotecas públicas), a decisão de executar esta edição tem que ver com o assegurar uma certa perenidade bibliográfica ao desgraçado programa deste governo, já que, como é bom de ver, a Biblioteca Nacional não pode receber um simples calhamaço de folhas a4 agrafadas ou com argolas.
A segunda é que só uma edição assim e de luxo permitirá a ministros e secretários de Estado um dia mais tarde apontarem para a estante e dizerem a filhos, pais ou avós: «estão a ver, ali está o programa do governo de que eu fiz parte». Não sei se estão a ver ou se estão recordados mas, enfim, é algo da família do célebre telefonema de Dias Loureiro: «Pai, sou ministro !».

2 comentários:

  1. Concordo que a referida brochura só servirá mesmo para enfeitar as respetivas estantes lembrando assim aos seus descendentes a importancia que tiveram ou que pelo menos pensam ter tido um dia na vida deste pobre país a que tao mal tem feito.

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  2. "Gente fina é outra coisa". Então sendo ministro...!!!!

    Um beijo.

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